20 Exemplos De Episteme

Em filosofia é chamado episteme ao conhecimento sistemático, ou seja, tem método, conhecimento e objeto de estudo específicos. Por exemplo: O conhecimento produzido pela física.

Esse conhecimento pode ser demonstrado empírica ou racionalmente e se opõe ao conhecimento baseado em crenças, uma vez que este não pode ser verificado ou submetido a qualquer tipo de experimentação.

Para além de sua concepção clássica, a episteme foi mudando de sentido e objeto de acordo com as diferentes épocas em que foi abordada de uma forma ou de outra. Hoje, e graças a As palavras e as coisas (1966), de Michel Foucault, a episteme é pensada como as condições históricas de possibilidade dos discursos do conhecimento. Ou seja, as condições históricas em que se produz o conhecimento de uma ou outra época.

Episteme na antiguidade clássica

Palavra episteme tem sua origem no grego epistome (ἐπιστήμη) e significa “conhecimento” ou “ciência”. Tanto Platão quanto Aristóteles falaram de episteme em oposição ao dox ou opinião popular. No entanto, existem algumas diferenças entre os dois conceitos.

Episteme segundo Platão (427-374 aC)

Na obra de Platão, o termo episteme refere-se ao conhecimento verdadeiro, absoluto, universal e imutável. Opõe-se à doxa, ou seja, ao conhecimento constituído de opiniões e crenças e que, portanto, pode ser falso, relativo, particular e mutável.

Para obter o verdadeiro conhecimento, é necessário ser capaz de captar as ideias que habitam o mundo inteligível, que são aquelas entidades imutáveis ​​que determinam a realidade ou o mundo sensível. Essa tarefa é reservada para aqueles que se dedicam à filosofia, pois direcionar a atenção para as ideias requer um treinamento especial. A ferramenta usada para alcançar as ideias é a razão.

Alguns exemplos de episteme de acordo com Platão são:

  1. A filosofia. É o conjunto de conhecimentos que permite o acesso às ideias universais, verdadeiras e imutáveis.
  2. As matemáticas. É o conjunto de conhecimentos que permite o acesso às ideias que não têm correlato no mundo sensível e que expressam as relações entre os números.
  3. A política. É o conjunto de saberes que permite o acesso ao conhecimento verdadeiro sobre a polis.

Episteme segundo Aristóteles (384-322 aC)

Para Aristóteles, somente o conhecimento que permite determinar as causas primeiras do ser reúne as condições necessárias para ser uma episteme.

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As primeiras causas podem ser materiais (o material de um objeto), formais (a essência e a estrutura de algo), eficientes (o que produz uma mudança) ou finais (o objetivo para o qual algo é direcionado), e com elas explica a razão de ser tudo o que existe.

Assim como Platão, Aristóteles afirma que episteme é o oposto de doxa, conhecimento baseado em crenças e opiniões. A maneira de encontrar o conhecimento procede de duas maneiras:

  • Dedução. É um raciocínio que parte de conceitos particulares, que descrevem a realidade, para chegar a conceitos universais, que são causas ou definições.
  • Indução. É um raciocínio de intuição intelectual, cujo tipo mais conhecido é o silogismo, que consiste em duas proposições, que são premissas, e outra, que é uma conclusão derivada da primeira. O objetivo é dar validade lógica a afirmações universais, que são resultados do raciocínio indutivo.

Alguns exemplos de episteme de acordo com Aristóteles são:

  1. metafísica. É o conjunto de conhecimentos que permite o acesso a todas as causas primeiras.
  2. A Fisica. É o conjunto de conhecimentos que permite o acesso às primeiras causas do movimento.
  3. Ética. É o conjunto de conhecimentos que permite o acesso às causas primeiras das ações justas dos homens.

Episteme na Idade Média

Na Idade Média, a episteme relacionava-se principalmente com a teologia, que é a disciplina que trata de estudar o conhecimento que se tem de Deus e das diferentes crenças religiosas.

Episteme segundo Tomás de Aquino (1224-1274)

Tomás de Aquino retoma as ideias aristotélicas de episteme, mas estabelece que apenas os conceitos que estão nas sagradas escrituras podem ser usados ​​para entender a realidade. Segundo este pensador, no Antigo Testamento e nos Evangelhos está o conhecimento verdadeiro, universal e imutável.

Tal como Aristóteles, Tomás de Aquino afirma que conhecer é conhecer as causas primeiras e que com elas se pode determinar a essência de tudo o que existe, e mesmo do bem e do mal.

Um exemplo de episteme de acordo com Tomás de Aquino é:

  1. teologia. É a ciência que nos permite conhecer Deus, ou seja, acessar a entidade que representa a causa eficiente e, portanto, a origem de tudo o que existe no mundo.

Episteme segundo Guilherme de Ockham (1285-1347)

Guilherme de Ockham, sem negar a existência de Deus, separa a teologia da ciência e produz uma teoria que difere dos postulados de Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino. Ele sustenta que não existem conceitos universais, ou seja, ideias ou conceitos imutáveis ​​que expliquem ou sejam a causa da existência de tudo o que está presente no mundo real. Segundo Ockham, existem apenas particulares, ou seja, elementos criados por Deus, que compartilham semelhanças, mas não possuem características em comum e, portanto, são os únicos que podem ser conhecidos.

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Um exemplo de episteme de acordo com William of Ockham é:

  1. O princípio da navalha de Ockham. Esse princípio determina como o conhecimento deve ser produzido e qual é o objeto de estudo, pois pressupõe que, se ninguém viu certas entidades, elas não existem. Portanto, a existência de entidades não depende da existência de outras entidades que não estejam no plano real.

Episteme na Modernidade

A modernidade é um período amplo e diversificado em que surgiram diferentes discursos sobre a episteme e o conhecimento em geral. O mais importante deles foi provavelmente o de Hegel.

Episteme según Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)

Hegel retoma o conceito aristotélico de episteme para estabelecer que existe apenas uma verdade racional e universal. Introduz uma modificação e diz que a verdade não é imutável, mas está mudando (sempre se torna outra), pois a verdade se dá no mundo, que é mudança constante.

Hegel argumenta que, para acessar uma verdade, é necessário conhecer a evolução do objeto, ou seja, compreender sua dialética, que se compõe de três etapas:

Alguns exemplos de episteme segundo Hegel:

  1. Devir da estética.
  • Afirmação. A parte estética da pintura, que é material.
  • Negação. A estética nega seu lado material com a música, que é espiritual.
  • Negação de negação. A estética chega a uma resolução da contradição com a poesia, que é material e espiritual, e a ideia universal de beleza é produzida.
  1. Devir da história, que é entendido como o desenvolvimento do espírito.
  • Afirmação. A monarquia oriental é o tipo de governo em que o espírito não tem liberdade.
  • Negação. A democracia grega é o tipo de governo em que o espírito é consciente da liberdade.
  • negação de negação. A monarquia constitucional é o tipo de governo em que o espírito tem liberdade.

Episteme no século XX

No século XX foi Michel Foucault, filósofo francês, quem introduziu as mudanças mais radicais na ideia de episteme.

Episteme segundo Michel Foucault (1926-1984)

Segundo Michel Foucault, a noção de episteme não se refere ao saber, mas às condições históricas de possibilidade dos discursos que possibilitam o surgimento de certos saberes em um dado momento e que estabelecem o que é verdadeiro e o que não é.

Duas ideias emergem desses discursos:

  • A verdade é algo que se impõe por uma relação de poder e que se dá em um contexto específico.
  • O conhecimento não é absoluto nem universal, mas sim contingente, pois são as condições históricas (linguagem, valores e hierarquias da ciência) que determinam se uma afirmação é válida ou não.

Uma teoria ou um conceito pode ser verdadeiro em um determinado momento e não mais tarde. Por exemplo, a teoria dos quatro humores, segundo a qual o corpo contém quatro substâncias ou humores que determinam a saúde, foi válida desde a Grécia Antiga até o século 19, quando foi descartada pela medicina.

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Exemplos de episteme segundo Foucault:

  1. episteme renascentista (séculos XV e XVI). Esse período foi caracterizado por uma relação de continuidade e semelhança entre palavras e coisas (Foucault usa o termo “coisas” para se referir ao que existe no mundo real) e por afirmar que tudo é explicável e comparável com entidades semelhantes. Por exemplo, pode-se estabelecer uma analogia entre o funcionamento do corpo humano e o funcionamento das plantas.
  2. episteme clássica (séculos XVII e XVIII). Esse período foi caracterizado por uma ruptura na relação de continuidade entre as palavras e as coisas: estabeleceu-se uma relação de representação entre termos e referentes. Por esta razão, as explicações de semelhanças foram deixadas de lado e sistemas de signos e categorias convencionais foram inventados para descrever o mundo. Por exemplo, desenvolveu-se a história natural, na qual os seres vivos foram classificados e uma hierarquia foi estabelecida entre eles em relação às suas identidades e suas diferenças.

episteme no presente

Atualmente, o conhecimento que é produzido por uma ciência é chamado de episteme, ou seja, é comprovado empírica ou racionalmente. Portanto, o termo também pode ser usado como sinônimo de ciência. Física, matemática e biologia são exemplos de episteme.

Alguns exemplos de episteme hoje:

  1. O conhecimento produzido pela astronomia. É um conjunto de leis que explica o funcionamento dos corpos e os fenômenos do espaço.
  2. O conhecimento produzido pela química. É um conjunto de conhecimentos que explicam a origem, as características e o comportamento da matéria.
  3. O conhecimento produzido pela matemática. É um conjunto de conhecimentos que explica racionalmente as propriedades e operações dos números.
  4. O conhecimento produzido pela biologia. É um conjunto de conhecimentos que explicam as características e o comportamento dos seres vivos.
  5. O conhecimento produzido pela geologia. É um conjunto de conhecimentos que afirma as características e a composição da estrutura da Terra.
  6. O conhecimento produzido pela paleontologia. É um conjunto de conhecimentos que enuncia as características e a história dos seres vivos que habitaram a Terra no passado.
  7. O conhecimento produzido pela geografia. É um conjunto de conhecimentos que é usado para descrever e representar a Terra.
  8. O conhecimento produzido pela medicina. É o conjunto de conhecimentos e técnicas utilizadas para prevenir, tratar e curar doenças.
  9. O conhecimento produzido pela economia. É o conjunto de conhecimentos que explica a produção e o comércio de bens e serviços.
  10. O conhecimento produzido pelas estatísticas. É o conjunto de conhecimentos que é usado para analisar dados, probabilidades e proporções.